24.2.23

Pablo Neruda



 Amo-te.

Amo-te de uma maneira inexplicável.

De uma forma inconfessável.

De um modo contraditório.

Amo-te

com os meus estados de ânimo 

que são muitos 

e que mudam, continuamente, 

com o tempo, com a vida 

e com a morte.

Amo-te

num mundo que não entendo, 

com pessoas que não compreendo, 

com a ambivalência da minha alma, 

com a incoerência dos meus actos, 

com a fatalidade do destino, 

com a conspiração do desejo, 

com a ambiguidade dos factos.

E, mesmo quando digo 

que não te amo, amo-te.

Até quando te engano, 

não te engano.

No fundo, levo a cabo um plano, 

para te amar melhor.


16.2.23

Olhou-me" Deus



 

Já me perdi na multidão

Fiquei sem chão

Sem saber para aonde ir.


Já dormi em colchão de papelão

Comi comida de cão

Por vergonha de pedir.

-

Já fui invisível pro mundo

Bati mais fundo que o fundo

Mas não podia desistir.


Passei frio, passei fome

Perdi até o meu nome

Mas não perdi o meu sentir.

-

Até que um dia

Alguém reparou no meu ser

Olhou-me com olhos de ver

Traçando o rumo dos meus passos...


Mostrou-me que não estamos sós

Falou-me sem usar a voz

E abraçou-me sem usar os braços.

.

José Carlos SC