27.12.23



 




 


Clarice Lispector


 Não entendo. Isso é tão vasto 

que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, 

mas não como um simples de espírito. 

O bom é ser inteligente e não entender. 

É uma benção estranha, como ter 

loucura sem ser doida. 

É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.