26.1.22

O meu condão

 


Quis Deus dar-me o condão 

de ser sensível 

Como o diamante  à luz que o alumia,

Dár-me uma alma fantástica,  impossível 

Um bailado de cor e fantasia!


Quis Deus fazer de ti a ambrosia

Desta paixão estranha, ardente, incrível!

Erguer em mim o facho inextinguivel,

Como um cinzel brincando uma agonia!


Quis Deus fazer-me tua...para nada!

Vãos, os meus braços de crucificada,

Inúteis,  esses beijos que te dei!


Anda! Caminha! Aonde?... 

Mas por onde?...

Se a um gesto dos teus a sombra esconde

O caminho de estrelas que tracei...


Florbela Espanca



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Ai. Jesus...