22.9.21

Que farei com este azul que me beija (poética Editora, 2021)



Por que insistes em traduzir o mundo?

Para que queres ser-lhe fiel

se te é infiel e hostil até à náusea?

A ruína o desencanto a perdição

alimentados sem pudor a cada dia

Para quê?


Houvesse artífice capaz de o

consertar

reinventar-lhe um corpo são,

um coração de princípios outros.

Enàs fontes,

à sua voz de água magoada,

devolver a cadência das trovas

antigas.


Houvesse como

curar os olhos dos homens

doentes de urbanismo, de alienação,

de crueldade...


E tu que fazes, Poesia,

enrolada nesse xaile escuro, qual

noite?

Não vês como te esperam?

Há quem te saiba ave e alvorada

quem te queira berço, colo, morada.


Vem encher de barcos iluminados

o mar negro da minha inquietação.


Lídia Borges 

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