31.1.22

Intervalo

 


 Quem te disse ao ouvido esse segredo

Que raras deusas têm  escutado

Aquele amor cheio de crença e medo

Que é verdadeiro só  se é segredado?

Quem to disse tão cedo?


Não fui eu, que te não ousei fazê-lo.

Não foi um outro, porque o não sabia.

Mas quem roçou da testa teu cabelo

E te disse ao ouvido o que sentia?

Seria alguém, seria?


Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?

Foi só qualquer ciúme  meu de ti

Que o supôs  dito, porque o não  direi,

Que o supôs feito, porque o só  fingi

Em sonhos que nem sei?


Seja o que for, quem foi que levemente,

Ao teu ouvido vagamente atento,

Te falou desse amor em mim presente

Mas que não  passa do meu pensamento 

Que anseia e que não  sente?


Foi um desejo que, sem corpo ou boca,

A teus ouvidos de eu sonhar-te disse

A frase eterna, imerecida  e louca

A que as deusas esperam da ledice

Com que o Olimpo se apouca.


Fernando Pessoa




Flavio Gikovate

 

"O coração tem razões 

que a razão conhece"

Fernando Pessoa



 Confusa essa pessoa! rs...