8.10.21

Luís de Camões



 Um mover  de olhos, brando e piedoso,

Sem ver de quê; um riso brando e honesto,

Quase forçado; um doce e humilde gesto,

De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;

Um repouso gravíssimo e modesto;

Uma pura bondade, manifesto

Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;


Um medo sem ter culpa; um ar sereno;


Um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste formosura

Da minha Circe, e o mágico veneno

Que pôde transformar meu pensamento.




6.10.21

I Want to know what love is



 

Michael Dandanell- Hungry Eyes



 

Cry to me- Michael Dsndanell



 

Não precisa



 

Jeito de mato





 

As ensinanças da dúvida

 


Tive um chão (mas já faz tempo)

todo feito de certezas

tão duras como lajedos.


Agora (o tempo é que fez)

tenho um caminho de barro

humedecido de dúvidas.


Mas nele (devagar vou)

me cresce funda a certeza

de que vale a pena o amor.


THIAGO DE MELLO (Brasil, 1926-  )

in: "Mormaço na floresta"



 

 



4.10.21

DENTRO DAS IMAGENS

 


 Os poemas têm veneno na boca.

 

Na estrada da minha vida

plantei a árvore

sem saber quem era.

 

Em que parte do planeta

há mais ódio? A matéria

erosiva transforma o corpo

e não há regresso. Não

restará um monte de estrume.

 

Em todo o lado

parece que o mundo em desordem

pouco a pouco enlouqueceu

e os homens atam a corda

à espera de que aconteça.

 

São infelizes

mas não o suficiente.

Não sabem dizer

por que se esquecem de amar


Isabel de SáO fim da estrada é uma cova em O real arrasa tudo (Elogio da sombra, 2019)