8.10.21

Luís de Camões



 Um mover  de olhos, brando e piedoso,

Sem ver de quê; um riso brando e honesto,

Quase forçado; um doce e humilde gesto,

De qualquer alegria duvidoso;

Um despejo quieto e vergonhoso;

Um repouso gravíssimo e modesto;

Uma pura bondade, manifesto

Indício da alma, limpo e gracioso;

Um encolhido ousar; uma brandura;


Um medo sem ter culpa; um ar sereno;


Um longo e obediente sofrimento:

Esta foi a celeste formosura

Da minha Circe, e o mágico veneno

Que pôde transformar meu pensamento.




6.10.21

4.10.21

DENTRO DAS IMAGENS

 


 Os poemas têm veneno na boca.

 

Na estrada da minha vida

plantei a árvore

sem saber quem era.

 

Em que parte do planeta

há mais ódio? A matéria

erosiva transforma o corpo

e não há regresso. Não

restará um monte de estrume.

 

Em todo o lado

parece que o mundo em desordem

pouco a pouco enlouqueceu

e os homens atam a corda

à espera de que aconteça.

 

São infelizes

mas não o suficiente.

Não sabem dizer

por que se esquecem de amar


Isabel de SáO fim da estrada é uma cova em O real arrasa tudo (Elogio da sombra, 2019)

Ai. Jesus...